terça-feira, 31 de agosto de 2010
Trilogia de Hannibal "Canibal" Lecter
Pensei em separar esse texto em três. Um pouco óbvio se formos pensar que se trata de uma resenha de uma trilogia. Mas não foi isso que aconteceu afinal. Eu havia feito, é verdade, três textos bem grandes. Mas decidi resumi-los em apenas um, mais compacto e menos didático por assim dizer.
A trilogia em questão é a obra literária de Thomas Harris, que tem como personagem principal Dr. Hannibal Lecter, um psiquiatra canibal, que foi retratada no cinema com muito sucesso.
Muita gente acha que “Silencio dos Inocentes” é a primeira obra da trilogia. Grande engano. A primeira, “Dragão Vermelho”, para mim é a mais interessante, pois conta com mais profundidade a história de Lecter, um homem fino, inteligente, renomado em sua profissão. Só que Lecter não tem escrúpulos e nem compromissos com a sanidade. Ele está além do conceito de sanidade. Ele é diagnosticado como um psicopata por ser um canibal. Para ele, não há nada de errado em ser um canibal. E será que há?
Em “Dragão Vermelho”, o agente do FBI William Graham recorre à ajuda de Lecter para capturar um serial killer, Francis Dollarhyde, que está colocando a cidade em estado de pânico. William Graham é o terceiro personagem mais interessante da trilogia, apenas atrás de Lecter e Starling (depois falarei dela). Ele fica numa faca de dois gumes, pois Lecter é seu inimigo. Ele entra no jogo de Lecter e se entrega mentalmente ao psiquiatra renomado para tentar capturar Dollarhyde de qualquer maneira. Um erro primário, até porque Lecter não gosta de Graham e vice-versa.
Claro que Lecter iria prejudicar Graham. O psiquiatra canibal acaba dando a Dollarhyde preciosas informações a respeito da família de Graham. O final é tão interessante quanto o livro. E é claro que eu não vou contar.
Dollarhyde é um personagem também muito interessante. Seu nível de psicopatia é mais visível do que o de Lecter. Conheço pessoas que sequer consideram Lecter um psicopata em potencial. O que diferencia os dois psicopatas é simples: Lecter é sutil e não entende a sua psicopatia, diferente de Dollarhyde, que é um psicopata convicto.
Uma informação interessante a respeito de “Dragão Vermelho” é que há duas versões: uma de 1986, com Brian Cox interpretando Dr. Lecter e outra de 2002, em que Hopkins faz seu mais famoso papel novamente.
A agente recém-formada do FBI, Clarice Starling, que aparece na segunda parte da trilogia, “Silêncio dos Inocentes”, um dos filmes mais premiados da história do cinema, pede ajuda a um Dr. Lecter preso e condenado a morte. São quatro encontros durante o filme. Os quatro encontros são fulminantes – e garantem com louvor o oscar de melhor ator e melhor atriz para Hopkins e Foster. A ajuda que Starling pede a Lecter é parecida com a que Graham pediu: há um psicopata serial killer a solta que esfola suas vítimas – e que seqüestrou a filha de um senador.
Jame Gumb é um costureiro homossexual que, inconformado com sua aparência, decide retirar a pele das vítimas.
Nesses quatro encontros com Lecter, Starling consegue desvendar enigmas e pistas que a levam para o seqüestrador. Acontece, então, uma das cenas de maior tensão da história do cinema.
A diferença simples entre os agentes Starling e Graham é que a moça consegue extrair exatamente o que mais a ajudou a capturar Gumb sem entrar na cabeça doentia de Lecter a ponto de se prejudicar, ao contrário de Graham. Claro que também há o fato de que Lecter criou certa obsessão por Starling. Uma paixão ao nível psicótico.
O último ato da trilogia, “Hannibal”, para mim é o menos interessante (inclusive foi o que fez menos sucesso). O filme mostra Dr. Lecter livre pelas ruas de Florença (e também nos EUA, posteriormente) sete anos após sua espetacular fuga da prisão enquanto a agente Starling (que não contou com a interpretação de Jodie Foster, infelizmente, que disse não ter gostado do rumo que sua personagem tomara) está um tanto perturbada com a última conversa que teve com Dr. Lecter antes do canibal fugir da prisão. Suas últimas palavras, frias como o gelo e cheio de genialidade, perturbam até a mim.
O início dessa seqüência mostra que Dr. Lecter aprendeu a, digamos, controlar seus instintos. Com base nesse controle (relativo e de curto prazo, é verdade) eu projeto minha teoria de que Lecter não é um psicopata convicto. Ele não é como Gumb ou Dollarhyde. Na verdade, ele se aproxima um pouco de Gumb, pois os dois agem por instinto. Gumb por causa de sua insatisfação com sua aparência, e Lecter por causa de sua... fome. Mas o psiquiatra não é como Dollarhyde ou Gumb, de forma alguma.
Em “Hannibal”, a parte interessante do filme se passa na Itália, quando o policial corrupto Rinaldo Pazzi tenta entregar Lecter para Mason Verger, um milionário que sobreviveu a um ataque de Hannibal Lecter, porém ficou com o rosto completamente desfigurado. Sua idéia é jogar Lecter para ser comido vivo por porcos selvagens.
Nesse filme, Starling tem uma atuação discreta, pois ela é apenas uma mulher atormentada pela lembrança que tem de Lecter, que por sua vez a eleva como símbolo de desejo. Isso ficou claro pra mim em “Silêncio dos Inocentes”. Lecter claramente ficou obcecado por Starling.
“Hannibal” é, com certeza, o filme mais sangrento da seqüência. A idéia de botar Lecter como protagonista foi infeliz, é verdade. Graham e Starling cumpriram seus papéis de protagonistas com louvor anteriormente. A questão é que Thomas Harris preferiu criar vilões “piores” e mais imundos do que Lecter – como o milionário Verger, que era um pedófilo.
O final do livro “Hannibal” não é a mesma do filme. No livro, Starling e Lecter fogem juntos, apaixonados. No filme, não. O final é mais exagerado, é verdade, e deixa as portas abertas para alguma seqüência – que realmente aconteceu.
Por fim, a minha dica é que todos possam ver os três filmes da seqüência. Não se impressionem se gostarem mais do “Dragão Vermelho” de 1986 do que de 2002. Apesar de não ter Hopkins no papel do Dr. Lecter, a primeira montagem é mais interessante. Quanto à “Silêncio dos Inocentes”, creio que todos vão considerar um dos melhores filmes de suas vidas – assim como eu considero. O filme, como a estória, é uma verdadeira obra prima. “Hannibal”, infelizmente, é decepcionante a meu ver, mas mesmo assim é um filme interessante. Nele, as cenas sangrentas são atuantes, assim como o lado diabólico que Hopkins dá a Lecter nessa filmagem.
Quanto à seqüência dos três filmes, “A Origem do Mal”, de 2007, eu não farei nenhuma resenha, pois o filme não é uma seqüência na verdade: apenas conta a história de Lecter, desde sua infância.
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